Luta contra o excesso de açúcar deve unir escolas, espaços urbanos e lares
Crianças ingerem três
vezes a quantidade de açúcar recomendada (máximo 25g por dia), revela recente
pesquisa da Associação Americana do Coração. O consumo excessivo propicia uma
série de ameaças à saúde, da cárie à obesidade e diabetes, alertam
profissionais da área. No Brasil, 30.900 crianças desde recém-nascidas a
14 anos vivem com diabetes mellitus, segundo a Federação Internacional de
Diabetes. A doença afeta 8,9% de toda a população do país, o que
corresponde a mais de 18 milhões de pessoas, segundo dados divulgados pelo
Ministério da Saúde. A diabetes é uma doença crônica caracterizada
pelo aumento dos níveis do açúcar no sangue (hiperglicemia) e tem dois tipos. A
diabetes mellitus tipo 2 (DM2) pode ser prevenida.
A DM2 é causada pela
produção e/ou ação insuficiente da insulina, provocando hiperglicemia. A tipo1
(DM1) é causada pela destruição das células pancreáticas que produzem insulina,
devido a uma reação autoimune, mais frequente nos jovens. Entre os principais agentes estão as bebidas
açucaradas, como refrigerantes, chás, sucos industrializados e energéticos.
Crianças e adolescentes devem se limitar o consumo de bebidas do tipo a 230ml
por semana, recomenda a Associação Americana do Coração.
Para conter a este
avanço, a reeducação alimentar infantil é apontada como a principal solução. A
mudança de hábito envolve desde os cuidados na gestação até uma parceria entre
escola e ambiente familiar:
- A educação alimentar
é importante, mas deve contemplar todos os ambientes de convivência:
residencial, escolar, urbano. Esses ambientes precisam estar preparados para
que crianças e adultos tenham uma alimentação equilibrada - ressalta o
endocrinologista Walmir Coutinho,
vice-diretor da Escola Médica de Pós-graduação da PUC-Rio.
Outra recomendação
essencial à incorporação de hábitos alimentares mais saudáveis - e, em
particular, a ingestão equilibrada de açúcar - é o contato, já na primeira
infância, com exemplos positivos. Assim orienta o presidente do Comitê de Saúde
Escolar da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio, Abelardo Bastos Pinto Jr:
- A conscientização
sobre as vantagens de alimentação saudável deve estar associada à prática
familiar como referência. A criança reproduz o que vê. Nos primeiros anos de
vida, ela é conduzida pelo conjunto de comportamentos alimentares e
biopsicossociais da família. Se a família tem um padrão alimentar adequada, a
criança se acostuma desde cedo com essa rotina saudável - observa o
especialista, integrante também do Departamento de Saúde Escolar da Sociedade
Brasileira de Pediatria e da Academia Americana de Pediatria.
Se, por um lado,
profissionais da Saúde reconhecem que mudanças de hábitos alimentares caminham
de forma gradual, por outro, a escalada mundial da obesidade, inclusive na
infância, e os diversos distúrbios de saúde dela decorrentes apontam para a
urgência desta reeducação. Para a nutricionista Emilia Paes
de Carvalho, idealizadora dos projetos Alquimia na cozinha: a
necessidade de um novo entendimento nutricional e Cantina saudável, é
necessário traçar prioridades:
– Mais da
metade das crianças brasileiras são obesas – alerta – Precisamos fazer uma
reeducação alimentar com foco no que é importante: alimentos naturais que
nutrem e digerem fácil – sugere.
Apesar da incorporação gradual de
alimentos mais saudáveis em rotinas familiares e escolares mundo afora,
especialistas ponderam que a combinação entre a correria da vida cotidiana e o
excesso de produtos industrializados revelam-se barreiras crônicas à (re)educação alimentar. “As pessoas se esquecem
de que o melhor remédio é o alimento consumido da forma mais natural. A cultura
alimentícia está perdendo o valor nutricional”, aflige-se Emilia. Para Abelardo, as festas infantis, em
que pese a troca gradativa de refrigerante por opções como mate e suco, ainda
acolhem, em geral, “transgressões alimentares”:
– Essas transgressões
são induzidas por pessoas desorientadas nutricionalmente. Sempre recomendo
ir para a festa alimentado, o que não é observado na maioria das vezes –
orienta – Maus hábitos alimentares em reuniões sociais, combinados a uma
alimentação inadequada no dia a dia, ajudam a perenizar um padrão de alto risco
à saúde – alerta o pediatra.
Dr. Abelardo Bastos. Foto: Divulgação |
Até os seis primeiros meses de vida, a
Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda exclusividade à amamentação.
Outras fontes alimentares, como legumes, verduras, frutas, cereais, devem ser
introduzidas gradativamente, de maneira conjugá-los com o aleitamento materno,
que pode ser estendido até os 2 anos, ou até mais. A recomendação, ainda de
acordo com a OMS, reduz o risco de obesidade e outros distúrbios decorrentes de
maus hábitos alimentares.
No Brasil, cerca
de 8,5% dos adolescentes entre 12 e 17 anos são obesos e 25,5% estão acima do
peso ideal, aponta o Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica).
Os percentuais preocupantes derivam, em parte, da ingestão de açúcar excessiva
constatada pela pesquisa da Associação Americana do Coração.
– O desmame precoce, a ingestão de
comida industrializada e falta de variedade alimentar, somados ao sedentarismo,
agravam o cenário – avalia o presidente do Comitê de Saúde Escolar da
Sociedade de Pediatria do Rio.
A rotina alimentar saudável não só
diminui a chance de problemas como cárie e obesidade, mas também se mostra uma
aliada potente para dirimir transtornos de saúde. Desde passou a adotar uma
alimentação mais saudável, o menino João Paulo, de 7 anos, passou a controlar
melhor a diabete descoberta aos 2 anos. A mãe dele, Ariane Boechat, recorda.
– Eu me assustei quando ele bebeu dois
litros de água durante uma madrugada. Transpirava mais do que as outras
crianças, nunca ganhava peso e tinha muitas infecções. Eu o amamentei durante
um mês, e ele sempre apresentou os sintomas desde que nasceu. Nunca fui regrada
com a alimentação dele até descobrir a doença.
O diabético precisa controlar diariamente a glicemia (açúcar no sangue)
A obesidade na infância é um tapete estendido a complicações na adolescência e na idade adulta. Está diretamente relacionada a distúrbios cardiovasculares, observa Coutinho: “A criança obesa vira uma bomba-relógio. Carrega o risco de uma doença cardiovascular explodir no futuro”.
Gabriel de Moraes Brasil, de 11
anos, luta contra a obesidade. Caso não adquira hábitos alimentares saudáveis,
advertem médicos e nutricionistas, fica difícil espantar ameaças
como doenças cardiovasculares, apneia do sono e insuficiência renal. Para
o tio do menino, Caio Vieira, o caso ilustra a renitência de uma associação
distorcida, ainda relativamente comum, entre gordura e saúde:
– Ele amamentou por no máximo 15 dias. Nunca
teve uma alimentação boa. A família achava bonitinho ele comer muito, ser
gordinho. Dos 5 anos em diante, só foi aumentando de peso. Ingere tudo em
excesso e raramente come algo saudável – lamenta o tio.
Com o risco de diabetes tipo 2
apresentado aos 15 anos quando estava acima
do peso ideal, a estudante de jornalismo da Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio),
Isadora Quintanilha, de 20 anos, começou uma alimentação saudável e a
praticar esportes para controlar melhor a taxa de glicose. Isadora se
recorda da dificuldade na época para mudar todo o seu hábito alimentar.
– Eu fiz uma dieta muito rigorosa,
lembro como foi difícil, emagreci muito. Cortei o macarrão que eu comia demais
e parei de ser sedentária. Comecei a comer pão integral com queijo minas ou
mussarela de búfala, até pizza de massa integral. Apesar do esforço, meus
exames de sangue nunca mais deram aquele valor alterado de glicose.
texto muito bom! saude em primeiro lugar!!
ResponderExcluirConcordo
ExcluirA diabetes é uma doença silenciosa, sendo de difícil detecção em um primeiro momento sem exames de sangue ou específicos. Baseado nas entrevistas, quais alertas e sintomas mais comuns sobre a doença?
ResponderExcluirMuito bom! https://apolitike.blogspot.com/
ResponderExcluirIsso é muito importante! As crianças andam se alimentando muito mal
ResponderExcluirMuito bom
ResponderExcluirMuito importante a discussão
ResponderExcluirutilidadee pública
ResponderExcluirAdorei a reportagem, foi bem esclarecedora e tratou de um tema muito importante. A saúde é realmente fundamental principalmente para as crianças.
ResponderExcluirMuito bom
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